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4.21.2015

Afinal Havia Outra (#21) - Primeiro mês: manual de instruções.

Apesar de nos sentirmos mães durante a gravidez, a verdade só chega com o nascimento. Comigo foi a 11 de fevereiro. Já lá vão 2 meses e sobrevivi sem manual de instruções, como todos os pais. Ajudam as conversas com outras mães e é nessas conversas que percebo que, afinal, eles são iguais. Os nossos filhos são iguais! Afinal quase todos passam pelo mesmo. Afinal podia haver um livro de instruções para o primeiro mês. Ou estarão as mães com quem troco impressões a mentir? Não me parece e por isso decido avançar com uma espécie de "manual de instruções para o primeiro mês". O que acham? É que para quem passa por isto pela primeira vez é bom saber que é mesmo assim. Que podes fazer isto ou aquilo e até saber que pode ou não resultar mas, caramba, se são todos iguais, se passam todos pelo mesmo, então porque não alertar para este mês inaugural em que somos lançados às feras? Vou fazer a minha tentativa e digam-me se não são todos iguais. E acrescentem se me esquecer de alguma coisa.

Capítulo 1: Ai que trocaram o bebé
A felicidade de sair da maternidade esgota-se logo na primeira noite em casa. Chegamos felizes, mostramos a casa ao bebé (pelo menos eu fiz uma espécie de visita guiada) até que à noite tudo se transforma e parece que nos trocaram o bebé. "Mas lá não chorava". "Dormia tão bem". "O que se passa?" "Deve ser do berço". "Ou terá frio? Ou calor?". Etc. Não sei se é a nossa insegurança de já não ter a campainha para pedir ajuda, mas a verdade é que é uma choradeira pegada, da bebé e da mãe. Se vos acontecer… é normal.

Capítulo 2: Afinal são cólicas
O choro é estridente. Tentamos acalmar. No colo. No berço. De lado. De barriga para baixo. Assemelhamos o ambiente ao útero com muito aconchego e o famoso “shhhh”. Até pode acalmar, mas por pouco tempo. As pernas esticam até não poder mais e o choro parece gritado. Por vezes a barriga está rija. Outras vezes se batermos com a mão sentimos que está oca.  Lá percebemos que são cólicas. Há massagens diárias para fazer. Há o saquinho de água quente na barriga para aliviar a dor. Há a alimentação da mãe que tem de ir fazendo experiências. Há chá de funcho e camomila. Há leites para ir variando para quem não amamenta. Há probióticos e medicamentos. Há quem use o tubinho do bebe gel vazio para sair ar. Pois nós temos tentado de tudo. É preciso fazer experiências (falando com o pediatra, claro). Mas é preciso é paciência porque é normal e se as experiências não resultarem, o tempo curará. Nada de grave para o bebé mas muito sofrimento para todos. Mesmo.

Capítulo 3: Os picos

- os picos de crescimento
O bebé chora sem parar. Mamou há 1h30. Vamos ver todos os outros sintomas do choro. Nenhum corresponde. Só se cala na mama. "Bolas está a ficar mal habituado" ou "terei leite suficiente?" Tudo normal. É um pico de crescimento. No meu caso aconteceu na primeira e na sétima/oitava semanas. É de loucos. Questionamos tudo. Temos medo que a partir de agora seja sempre assim. Queremos dormir. Mas não! Acaba por passar. Por isso é dar mama ou biberão quando pede, porque é normal. Ah! Normalmente o sono fica mais perturbado. (Pelo menos foi assim com a Alice).

- os picos no berço
Pois que chega a dada altura que o berço ganha picos. É verdade! O bebé está ferradinho no nosso colo e assim que toca no berço desperta. Preparem-se para imagináveis malabarismos. Preparem-se para entrarem no berço. Preparem-se para passar o testemunho ao pai em estado de desespero, porque a meio da noite e à terceira tentativa ninguém aguenta. Mas dizem as mães com quem falei que também passaram por isso. Não é do berço. Não são vocês que o habituaram mal. Tem dias e é normal! Há-de passar!

- os picos de choro 
Nas mil pesquisas pela internet li que lhe chamam “a hora da bruxa”. Pois eu não acredito nelas, mas a verdade é que houve ali uns tempos em que a Alice começava a chorar por volta das 23h até às 2h. Mudámos a hora do banho e tudo, mas nada a fazer. Ferradíssima. Quarto calmo. Os pais a aproveitar para descansar. E há um despertador diário. Nessas horas há muito instabilidade. Ora chora, ora parece que adormece, ora volta a chorar… e passam-se as horas nisto. Já sabem, é normal e passa. A Alice já passou essa fase.

Capítulo 4: O peso
Ui o peso! Semana a semana há uma balança e há uma tabela a cumprir. E há uma série de pessoas a perguntar “mama bem?”; “tens leite?” (principalmente com mamas pequeninas como eu); “se calhar precisa de suplemento”; etc. Há uns que ganham peso e há outros que perdem.  (Atenção que na primeira semana todos perdem). Mas tudo tem solução e todos crescem. É só ver matulões e matulonas que não ganhavam peso. O meu conselho é descomplicar. O chichi é um sinal que está bem de saúde. E se a experiência de pesar não for das melhores, (pela espera; pelos comentários que ouvimos; porque o bebé chora, etc.) arranjem uma solução que vos tranquilize. Há balanças self service nalguns centros. Ou podem sempre alugar ou comprar que também não é muito caro. Ou ir à farmácia e pesar com roupa e dar o desconto. É mesmo bom não complicar. Apesar de ser algo bastante importante para o bebé, acho que colocam demasiada pressão nos pais. Portanto, é normal se se sentirem muito preocupados em saber se estará a aumentar. Todos passamos por isso. Ah! E confiem na vossa intuição nos comentários menos positivos. 

Capítulo 5: O cocó  (sejamos diretos)
Neste primeiro mês vale tudo! No início, altura do colostro, é uma pasta meio verde. Dura que se cola ao rabinho. A partir da subida do leite é amarelo ou verde e muito pouco consistente. Aviso já que passei a trocar a fralda de lado depois de ter sido atingida por dois repuxos. E a fraldinha sempre em posição de escudo para travar qualquer acidente. Mas voltando ao que interessa, não se preocupem com a quantidade. O bebé pode fazer 8 vezes por dia, 3, ou mesmo nenhuma. É tudo normal neste primeiro mês.

Capítulo 6: O animal
Minhas queridas não vão levar apenas um bebé para casa. Não. Levam também um animal. Mas muito querido. Vão estranhar os rugidos que saem da boca do vosso bebé na hora do sono, mas também é normal. Aqui a Alice às vezes parece um cão a rosnar (mas em modo querido, claro), outras vezes assusto-me e penso que é um gato (é que tenho medo). Às vezes parece que ressona. Ou ressona mesmo? Coitadinha! Esta é também a fase dos espasmos e dos tremelicos. Tudo normal. Animem-se.

Capítulo 7: A mãe.

- As maminhas
Dediquem-se às maminhas por favor (quem amamentar, é claro). Mesmo com boa pega é normal que no início sofram um bocadinho. É até calejar, como diz aqui a JPB. Atenção à subida do leite por volta dos 5 dias. Pode ser muito chato, podem não dar por nada, pode ser apenas ligeiro com febres e as aminhas doridas. No meu caso ajudou o Purelan no início (comecei ainda na gravidez). Independente do creme o importante é hidratar e ter um creme para as fissuras caso aconteça. Depois, ajudaram as massagens no banho e uns saquinhos com gel que comprei que tanto dão para o frio (depois da mamada) como para o calor (antes da mamada). Ah! E andar com as maminhas ao léu também alivia no início!

- As lágrimas
Não são as lágrimas do bebé, não! São as nossas! Ui como correm! As minhas correram durante um mês. É normal. Mas nós por mais que tenhamos ouvido falar do babyblues não achávamos que seria assim. São as hormonas aos saltos. Pensem que é normal. Não compliquem. Abracem o pai ou a mãe ou a irmã. Quem estiver convosco. Digam como se sentem. Sem problemas. Vão ouvir que é normal. E vão acalmar. Vai voltar. Várias vezes. Vão achar ridículo. Vão questionar coisas. Vão pensar que vai ser sempre assim. Vão sentir que não se reconhecem. Vão ter medo que seja depressão pós-parto. Mas depois passa. Passa mesmo. É normal!

- O saco de boxe
Preparem-se para descarregar no pai. Vão andar às turras. Vão embirrar com ele. Acho que coincide mais ou menos com a fase em que o babyblues vai desaparecendo e o pai vai trabalhar. Deve ser inveja! Também é consequência da falta de sono. Mais uma vez, é normal e por isso refilem e reclamem e depois abracem-se e descompliquem, porque é uma fase e passará. Não vale a pena alimentar as turras do sono. Não sei se já vos disse mas… É normal!

Usem e abusem da palavra “normal” porque é mesmo assim! No pior drama, porque temos momentos destes, é pensar que faz parte. Lembrem-se que há uma espécie de manual e que o primeiro mês (mais coisa menos coisa) passa.

Célia Alves

4.20.2015

Afinal Havia Outra (#20) - Birras: sabem como lidar com elas?

Quatro anos e duas filhas depois, eu continuo sem saber lidar com as birras. Pensavam que iam encontrar respostas neste texto, não é verdade? Mas não - daí o ponto de interrogação no título…

Sempre que uma delas dá início a uma birra, a primeira coisa que eu faço – depois de respirar fundo, muito fundo – é pensar na injustiça da situação. “A sério?! Estás a começar uma birra e ainda agora estávamos aqui tão bem a brincar?” Ou então vou ainda mais ao detalhe: “Acabei de te comprar mais uma camisola da Elsa do Frozen e ontem deixei-te comer um ovo kinder e tu fazes-me isto?!” No fundo, a uma birra delas eu respondo com uma minha, ainda que a minha se desenvolva ao estilo Ally McBeal, no interior da minha cabeça e quase sempre com muitos resmungos, gestos e alguns palavrões à mistura.

E depois penso em todos os conselhos que já me deram até hoje: “Sem público não há espetáculo… conta até dez e respira fundo… já disseste que não, por isso é não até ao fim… coerência é segurança… pensa em coisas boas… bahhhh!” Um verdadeiro desatino!

Eu sei que as birras fazem parte do crescimento das crianças e são fundamentais para o desenvolvimento da personalidade delas. Mais do que isso, são uma forma de expressarem a frustração que sentem perante alguma situação. Mas conseguem partir de coisas muito estúpidas mesmo. “Mãe, não queria o pão partido em três, era em dois” ou então fazerem um espetáculo de todo o tamanho porque queriam carregar no botão do elevador e eu já tinha carregado…

As birras conseguem ser momentos terríveis para nós, pais, aos quais é preciso sobreviver – e por “sobreviver” quero dizer não nos passarmos (muito) da marmita, tentar que a coisa dure o mínimo de tempo possível e passarmos alguma mensagem de jeito às miúdas. Confesso que já tive de pedir um “desconto de tempo” à minha filha para subir a escada, entrar no meu quarto, fechar a porta, mandar um berro valente, respirar fundo e voltar a descer a escada para terminar a conversa. 

Tenho para mim que, no final de uma birra, a coisa até não correu mal se eu mantive a minha posição desde o início, se ela percebeu porque é que não podia fazer ou ter aquela coisa naquele momento, se não dei por mim aos berros e se acabámos por dar um abracinho. Mas nem sempre é assim. E a única certeza que temos é que, tal como as ondas do mar, depois desta há-de vir outra. Mais cedo ou mais tarde, dependendo da maré…

Catarina Raminhos, mãe da Maria Rita e da Maria Inês

4.13.2015

Afinal Havia Outra (#19) - As crianças são pessoas horríveis

Tem um narizinho pequenino, amoroso, tão fofinho. Uma boquinha delicada, de lábios bem desenhados, dentes pequeninos com um espacinho entre os da frente como eu quando era pequena.

Tem umas mãos e uns pés pequenos que me dá vontade de os comer, umas perninhas de alicate macias e umas costas e ombros que me comovem. E a pancita? Não há palavras para descrever. Os olhos enormes e redondos de pestanas compridas a olhar para mim, o sorriso malandro, os caracóis despenteados. Uma falsa. Acha que me pode conquistar só com os atributos físicos e com aquela voz pequenina que me enche o coração de alegria.

A minha filha é um monstro horrível que se está nas tintas para mim. Tanto se lhe dá se o meu braço está dormente de ficar pendurado na cama de grades porque a menina precisa de companhia para adormecer de todas as sete vezes que acorda de madrugada. Tanto se lhe dá se estou cansada, a morrer de sono, com frio ou dor de cabeça.

A minha filha quer lá saber se eu estou prestes a perder a paciência quando sou obrigada a repetir dez vezes que não, “não podes pôr a comida do cão no vaso da planta/bolsos/boca/chão/nariz”. Ri-se e continua a fazer disparates enquanto olha para mim, divertida, não sei se com o meu olhar incrédulo se com o meu tom avermelhado raiva.

A minha filha não podia estar-se mais a cagar para mim quando me chama a cada dois minutos e me diz “mão” que é código para “dá-me já a mão antes que desate a chorar mesmo que estejamos dentro de casa e não haja estrada para atravessar e estejas a tentar fazer o meu jantar/almoço/lanche.”

A minha filha não quer saber se ao fim de semana eu mereço preciso de um pequeno-almoço calmo a ler o meu livro enquanto enfardo as melhores coisas que consigo arranjar em casa às nove da manhã: ela quer ficar ao meu colo a enfiar os dedos nas minhas torradas e fruta e não há espaço para negociações. Nem para o meu livro. Ela faz de propósito quando aos dias de semana se recusa a acordar antes das 9h e ao fim-de-semana salta da cama às 7h30.

A minha filha não se comove com o sono que me ataca à tarde nem se deixa convencer com um “vamos fazer ó-ó as duas, na cama da mãe”. Grita “yoyo” que é código para Pocoyo e pede o iPad para ver os episódios e nem os olhos posso fechar porque ela passa o tempo a tocar no ecrã e a pôr aquela merda na pausa e depois não sabe carregar no play. Quer dar cambalhotas e atirar-se para cima de mim, encher-me a cara de baba porque acha divertido.

Ela quer lá saber se estamos atrasados para sair quando lhe pedimos para vestir o casaco e ela foge e diz que não e cruza os braços. O mesmo se aplica a pôr calças e meias, peças de roupa que ultimamente rejeita. Não podia estar-se mais nas tintas por ter transformado a hora de vestir numa espécie de wrestling patético alternado com tentativas desesperadas de a distrair, seja com canções infantis ou com histórias inventadas que metam as palavras “mamã, papá, cão, avô e avó”.

Ela não quer saber se me apetece mais ver o “Lei e Ordem, unidade especial” ou a “Miss Marple” do que a porra do Piggy, dos Heróis da Cidade, do Ruca ou a Ovelha Choné. Ou se não me apetece cantar pela 34ª nesse dia “a barata diz que tem…”. 

Ela simplesmente não quer saber. Deve ser bom viver assim com total omnipotência. Pena que não se irá lembrar destes tempos quando for adolescente e esta sensação de omnipotência for substituída pela de impotência face à tirania parental, castigando-nos com esgares de desdém e olhares acusatórios até quando espirro. É que mal posso esperar.

Leididi 

4.03.2015

Afinal Havia Outra (#18) - 1640 gramas

Já comecei e deixei a meio este post inúmeras vezes. Não é fácil escrever sobre aquela que foi a tua primeira casa. Foi lá que viveste até ao dia 21 de março, o dia do início da primavera, o dia da tua alta. Lembro-me bem desse dia. Chovia a potes e aqueles breves minutos à espera que o pai parasse o carro à entrada das urgências pareciam uma eternidade. Já no carro, sentei-me ao teu lado no banco de trás, agarrada aos teus pequenos dedos olhava para ti e sentia-me a mãe mais feliz e mais insegura do mundo. Gostaria que entendesses o que sinto cada vez que vamos à maternidade, é uma mistura de gratidão e angústia, um nó na garganta e uma sensação estranha de conforto, a vontade de seguir em frente mas ter medo de esquecer. Quando passo por lá à noite tudo isto torna-se ainda mais intenso... As noites, as noites eram o pior, António. Saíamos para comer qualquer coisa e na maioria das vezes ainda voltávamos às 10 ou 11 da noite para te desejar boa noite. Estacionávamos nas ruas já vazias, completamente exaustos mas sempre a passo acelerado, cumprimentávamos o segurança que já sabia de cor o número do teu berço e seguíamos pelos corredores fora, eu com o chá de funcho na mão, o pai carregado com esterilizadores, bombas de leite ou a ceia preparada pelas avós. Desinfetávamos as mãos, deixávamos os casacos no cacifo e sentávamo-nos finalmente ao teu lado. Na sala, agora escura e quase silenciosa - não fosse o barulho constante das máquinas e do rádio propositadamente lá colocado durante a noite - ficávamos nós os três e os outros bebés. Aproveitávamos essas horas calmas para falar com as enfermeiras sobre a tua evolução e tirávamos dúvidas sobre como cuidar de um bebé tão pequeno em casa. Saímos de lá com uma boa preparação, aprendemos mais naquelas noites do que em todos os livros e cursos de preparação para o parto juntos. 

Às enfermeiras ganhámos um carinho especial, elas não se limitavam a tratar de ti, elas cuidavam de ti, davam-te colo, falavam contigo... Esméria, Ângela, Manuela, Rute, Tânia, Ana Lúcia, Sílvia, estes serão sem dúvida alguns dos nomes cujos rostos jamais esqueceremos.

Rita Carvalho

3.28.2015

Afinal Havia Outra (#17) - Não queria ser mãe.

Esta foi uma questão que me assombrou durante muitos anos. Foram uns tempos valentes em que tive completamente convencida que nunca viria a ser mãe. E verdade seja dita, estava feliz com a minha decisão.

O único incómodo eram todas as mães que me rodeavam e que não conseguiam compreender a minha escolha. Como se fossem elas que nas suas conversas iguais me conseguissem de alguma forma convencer. Sim, porque tendo filhos eles até seriam criados por elas, não é?!

Olhava para aquelas mães conformadas em que a felicidade estava toda em ser mãe e deixar de ser mulher e sentia-me cada vez menos convencida.

Quando muito, mas mesmo muito, esporadicamente pensava sobre ser mãe, era sempre pelos motivos que considero errados. Sim, gostava de experimentar estar grávida e ter "aquela" barriga para exibir; sim queria receber mimos e presentes; sim, queria ser o centro das atenções enquanto grávida. Mas queria um bebé, dependente de mim, que precisa de comer, tomar banho, dormir, chupetas e birras, vómitos e cocós, ou até mesmo brincadeiras intermináveis e gritos e gritinhos? Não, não queria nada disso.

Gostava da minha vida tal como ela era. Dormir até tarde ao fim de semana... Decidir às nove da noite que não me apetece fazer jantar e ir a qualquer lado... Fugir das compras e do supermercado até restar apenas um enorme vazio no frigorífico... Sair à noite com os amigos... Apanhar umas bebedeiras... Prolongar os meus dias até tarde, porque não há horas para ir para a cama... Pegar nas poupanças e estourá-las em sapatos... Eu era MUITO, MUITO feliz assim.

Chegou-me durante felizes 9 anos de casada, e acreditem, continuava a chegar, e continuaria. 
Um dia, tudo mudou, afinal tudo muda! Não sei como nem porquê, e nem sei se os meus motivos estão certos ou errados, porque nem motivos tenho afinal. Mas tudo mudou.

Dia 5 de Novembro de 2014, apareceram 2 riscas naquele pedacinho de plástico, que mudaram tudo.

Não foi acidente, pelo contrário, eu queria aquelas riscas... Porquê? Não sei... Não sei mesmo. Sei que era feliz, com a minha vida irresponsável, e sou igualmente feliz agora enquanto me adapto à nova realidade.

Dúvidas? Tenho muitas... Afinal de contas, sei lá eu ser mãe.



Ana Filipa Guerreiro

3.23.2015

Afinal havia Outra (#16) - Não é difícil ter um filho...



Não é difícil ter um filho. Dar-lhe colo, alimentá-lo, ensinar-lhe a fazer o símbolo do rock com os dedos. Adormecê-lo, levá-lo a passear, dar-lhe banho e ter a certeza que tem as orelhas limpas.

Difícil é transformarmo-nos numa família. Uma família a sério, que come à mesa toda junta, que vai a sítios, que passa férias, que vai às compras ao supermercado. Porque no início despacha-se a criança, dá-se o banho, o jantar na cadeirinha alta e cama. Só depois é que tratamos de nós. Faço o jantar, ele põe a mesa e passeia o cão. Sentamo-nos a comer, a ver televisão e a conversar.

Tudo gira em torno dela, fazemos o possível para que ela esteja satisfeita, para que durma as horas que é suposto, para que coma sempre a horas. Não almoçamos fora ao fim-de-semana como gostaríamos porque ela tem de almoçar e dormir a sesta. Não a maçamos com idas ao supermercado, a menos que seja coisa rápida, tratamos a nossa filha como se fosse uma visita de cerimónia e parece que estamos sempre desejosos que a visita vá dormir para que possamos estar descansados. Mas por outro lado é uma chatice quando a visita dorme porque depois temos de esperar que acorde para podermos sair de casa. Só que a visita veio para ficar e a vida em família nem sempre cumpre horários nem regras. E a família é constituída por três pessoas e não duas. E essa dinâmica é, para mim, o mais difícil. Vê-la como parte da família em vez de um ser planeta cujos satélites somos nós. Encontrar-me no meio desta confusão que é ter uma criança em casa, de ser mãe, de ter de dizer que não, de ter de dançar em vez de andar porque a minha filha acha que vive num musical da Broadway e que eu sou uma jukebox.

De repente, comer ao mesmo tempo que ela – ou ela ao mesmo tempo que nós, à mesa – tornou-se num dos maiores desafios da nossa vida familiar. Tão grande que ainda não conseguimos atingir o objectivo. Também ainda não dominamos a mestria de estarmos juntos também quando estamos com ela – normalmente está um com ela e o outro a tratar de assuntos, ou estamos os dois virados só para ela porque a menina precisa de atenção a todo o instante e eu não quero que ela cresça com falta de confiança.

Não é difícil pôr um ser humano no mundo, difícil é deixá-lo fazer parte da família. Isso e conseguir que tenha as unhas limpas.

3.21.2015

Afinal Havia Outra (#15) - O cheiro dos bebés

Quando estamos grávidas e começamos a falar do assunto com outras mães há um assunto que vem sempre à baila: o cheiro dos bebés.
Todas, sem excepção, deliram com o cheiro dos bebés recém-nascidos ou mesmo dos bebés em geral. Todas falam do cheiro suave e quente da pele de bebé, do bafo leitoso que se sente quando se encosta o nariz junto à boca deles, do aroma adocicado nos refegos das pernas ou na curva especial do pescoço. E quando se pega num bebé que acabou de tomar banho? Ui, então aí o mulherio derrete-se em suspiros e até sente fraqueza nas pernas. Sim, o cheiro dos bebés é bestial e devia vender-se em frasquinhos para podermos snifar sempre que nos apetecesse... 

Isto se os bebés de que estamos a falar não forem os meus bebés.

Como saberão o cocó dos bebés recém-nascidos não tem propriamente cheiro e as quantidades de xixi são tão pequenas que ainda permitem que o dito fique devidamente retido nas fraldas. A crosta láctea nestas minhas criaturas é inexistente por isso também não temos cheiro vindo daí. A roupa deles cheira sempre bem, obrigada amaciador, e a chucha é pouco usada por isso também não acumula cheiros. Ainda não usam aqueles bonecos dos quais nunca se separam e que são como um terceiro braço, por isso também não levamos com o cheiro estagnado de um peluche que já foi fofinho e novo e agora é encardido e amorfo. Do que é que eu estou a falar, então?

Do cheiro a bolçado.
Esse cheiro meio azedo, meio fresco, que os meus filhos teimam em manter durante o(s) primeiro(s) mese(s). Os gaiatos mamam muito bem, aliás, nasceram ensinados e sempre correu tudo bem no que toca à amamentação, no sentido lato de alimentação e garantia de sobrevivência de um ser vivo minúsculo. Estou muito grata por isso. O que me aborrece, não, é mais forte que um aborrecimento, o que me chateia mesmo, que me lixa o juízo e me consome os neurónios é a reacção automática que eles têm assim que são colocados a arrotar após a mamada e que é deitar cá para fora todo o leite que estiveram a sacar da mãe.

Vá, eu sei que não é toooodo o leite, até porque se assim fosse não cresciam a olhos vistos e também sei que é normal isto acontecer dada a imaturidade da válvula que regula a entrada do estômago, a cárdia, e que impede que a comida volte para a boca. Também sei que uma pequena colher de café cheia e derramada numa toalha faz estragos, sim, já fiz este teste recomendado pelos pediatras para perceber que a quantidade de leite bolçada pode ser uma ilusão de óptica. E antes que perguntem, sim, já verifiquei que a pega e a posição de amamentar estão correctas e dormem numa cama inclinada. 
Não sei porque é que isto acontece, sei que vai melhorando com os dias, vá, com as semanas e meses, mas que fico com nervos fico. É roupa molhada, é babete ensopado, é mais uma fralda para lavar e é, muitas vezes, um fio de leite a escorrer pelo meu peito até à barriga. O que é sempre agradável, principalmente no inverno! Quem te manda ter filhos no inverno, pá? 

Eu até gosto de natas azedas e de queijo fresco (que é como o pai chama ao bolçado mais denso que às vezes aparece), mas prefiro tê-los no meu prato e não na minha roupa! E gostava muito de poder cheirar os meus filhos à vontade, com aquele ar enamorado e derretido, sempre que me apetecesse, sem me deparar com um pijama húmido ou um babete cheio de manchas amarelas. 

Os putos até são fixes, dormem bem, comem bem e são calminhos, mas podiam ter esta cena controlada para a mãe puder sacar-lhes o cheirinho bom a toda a hora e o pai, que nem gosta de queijo, gostar de os pegar ao colo.

Joana David e Silva
mãe do João, de dois anos, e do Francisco, de três meses

3.14.2015

Afinal Havia outra (#14) - Nunca mais fui a mesma.

É muito estranho dizer que engravidei às 23 horas do dia 23 de Outubro de 2012. Mas foi. E no dia 5 de Novembro senti com toda a certeza que estava grávida. Toda eu era fogo-de-artifício, arco-íris e haagen-dazs de felicidade.

E depois caiu-me a ficha. Ai Virgem Santa, e agora? Não que achasse que não dava conta do recado, mas porque queria dar conta da melhor forma possível. E antes que as hormonas do sétimo círculo do Inferno se apoderassem, decidi fazer as coisas como sei: em grande.

E assim começou.

Primeiro foram os livros sobre a gravidez, daqueles com fotos de grávidas giras com ar de quem só engoliu a criança e não em modo “os meus pés só cabem em havaianas e mesmo assim…”.

Depois foram os livros da moda como o do Dr. Oz, que me dizia para comer semente de linhaça quando me apetecesse um chocolate. Foi exatamente isso que fiz. Quando comia um snickers, imaginava um campo de linhaças ao vento.

E segui com os livros técnicos de desenvolvimento psicológico, psico-motor e comportamental das crianças, com nomes esdrúxulos e impercetíveis. E com um dicionário ao lado.

E, claro, o Brazelton e o Cordeiro, que passaram a ser meus companheiros de cama e sofá. (Até hoje juro que o meu marido tinha ciúmes!)

Preparações para o parto foram logo três. Assim de enfiada! Uma de ioga, para ela ter as energias equilibradas e porque me dava a desculpa perfeita para usar as únicas calças que me serviam. Uma aquática, não fosse a “piquena” ser meia peixe. E ainda uma teórica, onde me sentava na fila da frente, a apontar tudo com esmero e com sublinhados às cores. Sim, mesmo à totó!

E mesmo sendo naba nabíssima com as tecnologias, inscrevi-me no BabyCenter - coisa maravilhosa que ainda hoje tanto jeito me dá -, em blogs, em grupos de facebook e tudo o mais mamã-internético;

Ele foi tudo e mais alguma coisa. Papei tudo.

E quando a Maria do Carmo nasceu, a 24 de Julho de 2013, estava de facto calma e preparada. Preparada para a amamentação, para o mecónio, para as alterações hormonais e para todas as outras três mil coisas que acontecem com a maternidade.

Só não estava preparada para uma coisa: nunca mais ser a mesma pessoa.

Nunca mais ser o centro do meu mundo.

Nunca mais ser a pessoa que mais amo (imensamente egocêntrica, eu sei).

Nunca mais conseguir ver um telejornal sem chorar pelo menos 3 vezes.

Nunca mais conseguir ver qualquer reportagem sobre fome, maus-tratos ou negligência infantis. Não consigo simplesmente.

Nunca mais passar por uma criança sem lhe sorrir, meter conversa, perguntar a idade e o nome e todas as outras coisas absurdas que via os outros fazerem. Mas (ainda) não cheguei ao bilu bilu.

Nunca mais ver filmes parvos como o “Pai da Noiva” sem carpir este mundo e o outro.

Nunca mais acordar de mau humor, porque acordo com um doce “mamã” que já me faz ganhar o dia.

Nunca mais ter a mala maior quando vamos de fim de semana.

Nunca mais passar horas a preocupar-me com a nova coleção, com as tendências e com os coordenados. Pelo menos não em ponto grande…

Nunca mais ter um péssimo dia que um abraço tão pequeno não cure.

Nunca mais não ser mãe.

Felizmente.


Filipa Caroto Escórcio, mãe da Maria do Carmo, de 18 meses
Mãe Patinha

3.09.2015

Afinal Havia Outra (#13) - Desculpem lá o desabafo!

Vou entrando assim, no vosso dia, sem pedir licença nem nada, mas preciso de desabafar. As últimas semanas da minha vida têm sido caóticas. As “Joanas que sabem” estão à espera de um texto meu e eu nem sei o que escrever, porque não tenho tempo sequer para pensar.

A minha filha de dois anos teve varicela. Dez dias em casa da avó, pomadas para aqui, mais xaropes para ali, ir buscar uma à avó, a outra à creche, chegar a casa, dar banho com farinha Maizena – sim, ajuda a secar as borbulhas e é ótimo - dar jantar, deitar as miúdas e adormecer toda torta com elas, vestida e tudo e perceber que são quatro da manhã e a televisão lá em baixo ainda está ligada.

A varicela vai-se, vem uma infeção urinária, antibiótico e a miúda lá fica boa e regressa à creche. Eis senão quando aparecem as primeiras borbulhas na mais velha. Deixar uma na creche, outra na avó e por aí em diante - que eu preciso de desabafar mas escuso de estar a repetir-me porque vocês não têm culpa nenhuma. Eu cheia de trabalho, o pai cheio de trabalho e é ver um e o outro a adormecer em qualquer lado – tipo zombies – ao mesmo tempo que a roupa para lavar quase chega ao teto da casa de banho e a loiça nem sempre chega à máquina.

Depois de tudo isto - e livres da varicela - a mais velha fica com gripe, com direito a uma ida para as urgências a meio da noite e tudo. “Devíamos marcar um fim-de-semana em qualquer lado”, diz ele. Mas como, se as avós também estão as duas doentes? (Ainda não vos tinha contado estar parte, pois não?) Pois. E fica assim a possibilidade de ir substituída pela vontade de ir. Parecendo que não, sempre fica o coração mais quentinho por sabermos que ambos queríamos muito ir. Só que não dá.

Para ser sincera, acho que esta canseira toda já vem de muito antes das varicelas. Acho mesmo que a última vez que descansei a sério foi no dia de Natal. De lá para cá foram semanas desenfreadas atrás de semanas desenfreadas. Combinações de almoços com as amigas adiados, baldas a jantares de aniversário, duas peças de teatro que queria muito ter visto e não vi, já para não falar dos filmes que entram e saem do cinema e eu nada! Pela primeira vez na minha vida, não vi um único filme nomeado para os Óscares...  

E, de repente, esta semana lá se arranjou quem ficasse com elas e fomos jantar fora no dia do 16º aniversário de namoro. Vesti uma camisa preta que já não saía do armário há séculos e pus um risquinho nos olhos para “disfarçar”. Quando íamos a sair de casa até julgo ter sentido borboletas na barriga e não sei se era por estar a sair com o namorado ou simplesmente por estar a sair. O que eu sei é que foi tão bom conversar como dantes, com tempo para acabar todas as frases sem interrupções. Recordar os primeiros tempos de namoro – chiça, foi há tanto tempo, caraças! E renovar vontades: “Catarina, temos mesmo de ir os dois de fim-de-semana um dia destes senão caímos para o lado”. E aí, nesse pequeno oásis num deserto de cansaço e de tarefas para cumprir, percebemos que, mesmo cansados e muitas vezes desencontrados dentro de quatro paredes, estamos na mesma. E “na mesma” não é mau, é bom. É muito bom. Acho mesmo que era isto que o Kundera queria dizer quando definiu a felicidade como “o desejo de repetição”.

E pronto, agora que já desabafei, saio de fininho para ver se me lembro de alguma coisa para o texto que tenho de entregar...

Catarina Raminhos, mãe da Maria Rita e da Maria Inês

3.05.2015

Afinal Havia Outra (#12) - Quando o final não é o esperado.

Após um início conturbado, a minha gravidez foi decorrendo normalmente. Às 19 semanas uma indisposição e algumas dores na zona dos rins levaram-me à urgência. Análises, exames, ecografias… e as palavras mágicas: está tudo bem com o bebé, é uma criança saudável e as dores significam que a mãe tem que abrandar o ritmo. Saí do hospital naquele dia levíssima… tive a certeza naquele dia que ia ser mãe de um menino, estava tudo bem com o bebé e prometi a mim mesma que teria mais calma. Isto passou-se num domingo, e na sexta-feira seguinte tinha marcado a ecografia morfológica no Centro de Entrecampos. Desta vez nem ia nervosa, pelo contrário, ia extremamente confiante…

Mais ou menos 40 minutos depois de ter começado a ecografia o médico pede à assistente para ligar para Santa Marta para falar com o médico de serviço e em simultâneo pede-me para mudar para outra sala, porque havia qualquer coisa que não conseguia ver bem no bebé com aquele aparelho. Ok! Deve ser normal este procedimento, enquanto me instalo ele trata de outros assuntos, pensei para comigo! Entretanto começo a ouvir a conversa do médico com Santa Marta: “Podes atender uma paciente que aqui tenho… ela não é de Lisboa… sim, há qualquer coisa no coração do bebé que eu não consigo ver…. “Hããã? Como? Coração? Do meu bebé???? O quê?... (escusado será dizer que nesta época a minha ignorância levava-me a pensar que problemas de coração eram só para maiores de 50!!!). O meu coração parou com o choque, para a seguir disparar desenfreadamente. A minha vida ficou suspensa naquele momento, os meus sonhos desmoronavam-se, as palavras do médico ecoavam-me na mente, as lágrimas corriam livremente… o meu bebé tinha um problema, e agora?

Já passava das 22 horas daquele dia 14 de Março quando segui para o Hospital de Santa Marta onde tinha o Dr. Macedo à minha espera. Após um ecocardiograma e muitas perguntas saí sem um diagnóstico definido, o bebé estava atravessado e não era possível afirmar com certeza qual era o problema, voltaria daí a 15 dias para confirmar. Estava tão mal nesse dia que pedi ao médico que me adiantasse os diagnósticos possíveis e mesmo contrariado ele lá avançou as hipóteses: poderia ser uma CIV (comunicação intraventricular) – era o melhor diagnóstico – ou uma Tetralogia de Fallot, (levei semanas para fixar este nome) que seria a situação mais grave. Isto implicava que o bebé teria que ser operado ao coração pelo menos uma vez, ou mais, dependendo como a situação fosse evoluindo.

Foram 15 dias angustiantes… interiormente só pedia para não me perguntarem pelo bebé, estava de rastos e não conseguia perceber o que tinha corrido mal, e não era isto que esperava quando engravidei. Não sabia como lidar com tudo o que estava a acontecer, até que num desses dias o meu marido disse-me: “Estás grávida de 22 semanas e não há nada que possamos fazer, temos que o aceitar e que o amar independentemente de como ele vier!”. Acho que era aquilo que eu precisava ouvir.

No dia 27 de Março tive a confirmação… o meu bebé tinha uma Tetralogia de Fallot! Repeti-lhe todos os dias que ele seria um lutador e que nós estaríamos sempre lá para ele.

Passei a ser seguida na Maternidade Alfredo da Costa, nas consultas de alto risco e em simultâneo no Hospital de Santa Marta. No dia 20 de Maio, um mês antes da data prevista, entrei em trabalho de parto. Fui internada na MAC, onde ele nasceu no dia 21 de Maio. Foi para os cuidados intensivos de onde teve alta dois dias depois.

Passaram quase 18 anos, ele foi operado aos 2 meses, fez a cirurgia correctiva aos 16 meses, e teve que fazer nova cirurgia há cerca de dois anos. Prevê-se que daqui a 15 anos a válvula tenha que ser novamente substituída.

Ele é um menino extraordinário e muito especial. Não tem grandes limitações e faz a sua vida normalmente como qualquer jovem da sua idade. E é muito mais do que aquilo que eu sonhei... Com ele aprendi a ser mãe... a mãe que ele precisa... (Quatro anos após o seu nascimento demos-lhe um irmão, que nasceu sem problemas de maior!)

Quando o final não é aquele que esperamos e a mãe não sabe, a mãe aprende… e a uma velocidade surpreendente!

Alzira Maia Ferreira

2.28.2015

Afinal havia outra (#11) - Ter um filho em Angola

Estava eu entretida a ler o vosso post fantástico quando começo a sentir uma certa vontade de escrever qualquer coisa com impacto suficiente para ir parar ao vosso blog.
 

"Vou escrever sobre o terror do meu parto!!!!
Hummm
É tão negativo e isto (a maternidade, leia-se) até é uma coisa bem fixe."

...

"Vou escrever sobre os primeiros meses!!!!!
Fraldas. Biberões. Choros indecifráveis. Entreter bebé que não dá feedback. Hormonas ainda meio loucas e deprimidas.
BOOOOOOOORIIIIIING!"

...

"Vou mas'é ter juízo, curtir o meu tempo livre a ver mais blogs e facebook (oh yeah!!!!! Cultura para cima!!!!) com o terrorista a dormir e deixar de me sentir a Shakespeare do momento."

Mas foi mais forte do que eu!!!!

"Calmaaaaa! Vou escrever sobre ter um filho em Angola!!!!"

Pois... é o caso!
Será suficientemente interessante?

Por aqui vive-se sem luz a maior parte dos dias, dependente do tanque de água, com medo das picadas dos mosquitos e a rezar para que as diarreias (porque as há de tempos a tempos) sejam ligeiras e pacíficas.

Então como é que é viver em Angola com um bebé desde os 4 meses?

Vive-se...

A primeira vez que pus a rede mosquiteira no meu filho fiquei em pânico. "Ai porque vai dormir mal! Vai-se sentir preso! Vai acordar e berrar porque vai ficar assustado com a rede!" Mimimimimi...
Nada. Pacífico.
Dormiu tranquilo. A rede mantém-se. Já tem uns valentes buracos graças a um gatinho maravilhoso que achou que era uma brincadeira gira, mas todos em lugares estrategicamente bem colocados para poderem ser "tapados".

O repelente... esse chateia-me um bocadinho porque a maior parte dos repelentes não faz porcariazinha nenhuma. Aliás, estive mesmo para empregar a outra palavra pior que porcariazinha, mas o vosso blog é tão mimoso que achei que não ia ficar bem. Continuando...
Os repelentes que repelem realmente os mosquitos dizem que é para maiores de 2 anos. Os outros... dá-me a sensação que os mosquitos ainda se lambuzam depois da picada. O ideal? Não sair com o puto depois das 17h. É! Não dá, não dá! Paciência. Mas tentamos manter este horário à risca.

Claro que entretanto tenho um artista que para além de saber fazer o som de não sei quantos animais sabe como se afastam moscas e mosquitos. A seguir ao "Então como é que faz a vaca?!" vem logo o "Então como é que se mata um mosquito?". É. Qualquer criança que cresça em Angola sabe como se mata um mosquito. (palmada no ar caso não saibam)

E qualquer criança que cresça em Angola sabe como é que se dança. Mas dançar a sério. Não são esses saltinhos e ondulações dos bebés normais. O meu filho levanta a perna e dança kuduro na perfeição. "Não faz isso Bela, não faz isso Bela, não faz isso B-B-B-Bela!" e é vê-lo a levantar a perna e a girar. Uma delícia.

E quando falta a luz?! "Lú lú lú lú!" E lá trepa ele por mim acima só para ter mais uma viagem ao quintal para ir ligar o gerador. E como é que se explica a uma criança de 1 ano que o gerador às vezes avaria e não há mesmo luz? Nem televisão? Nem Panda???!!!! Não conseguimos explicar. É escusado.

E a água? A água é um problema porque não é potável. No meu caso instalei uns super mega filtros, mas... a maior parte das pessoas não tem. Como é que fazem com bebés que adoram beber toda a água do banho? Dão com água fervida. Ou água engarrafada. Ou...
Não. É mesmo só uma destas opções.
Ou então já têm filhos com estômagos de aço como o meu que no outro dia ligou a mangueira (sem água filtrada) que estava apontadinha para ele e bebeu ali umas valentes litradas de água cheia de bichinhos e girinos e porcariazinhas que rimam com cólera, mas safou-se bem. Valente do miúdo que nem um cocó mole teve (sim, qualquer post de maternidade deve ter a palavra cocó incluída! Desculpem lá!)

E vais passear com ele onde?
Pois... é um problema. Nós cá em casa não somos muito fãs de praia. E as escolhas são praia, restaurantes, praia, esplanadas na praia, e.... ah, praia! Pois...
Havia um jardim fantástico, com escorregas, árvores, casinhas de plástico, baloiços, carrinhos, bicicletas, dava para todas as idades e tinha segurança. Sim pagava-se mas... ok. Faz parte. Fechou. Fechou! Assim. De repente. Sem aviso. Sem backup. Centenas de mães anti-praia ou fartinhas de praia sem opção.

Por aqui montámos uma mini piscina no quintal comprada num hipermercado qualquer e olha... tem resolvido o assunto "entretenimento" por uns tempos. Mas a piscina é mesmo mini. E esta malta cresce muuuuuito. E rápido. Por isso, acho que as Playstation vão ser uma opção aqui por estes lados.

Escola e cresches?
Tem e muitas. Mas caras! Caríssimas!!!! Com preços de fazer corar.
Eu fui burra: pus-me a pesquisar... a ver as fotos nos sites e no facebook, a apreciação de algumas mães... e fui excluindo uns, pondo de lado outros... depois via o horário, o tipo de ensino, as actividades extracurriculares... até que cheguei a 3: uma que muita gente fala mal, uma que é de uma língua que ninguém fala aqui em casa e outra que são 1800 dolares por mês.
Por isso este assunto tem sido tabu nos últimos tempos pois põe-me valentemente mal disposta.
O que é que vou fazer? Não sei. Ponto final!


E onde é que ele fica durante o dia?
Com uma babá. Que é muito comum por estes lados. O meu filho não tem avós cá. Tem uma babá a quem ele trata por mã. Que é muito carinhosa. Que vem trabalhar sempre de sorriso na cara. Mas que à primeira fralda que trocou quando o Gui tinha 4 meses se virou para mim e disse "o Gui si cagó". E eu fiquei verde. Roxa. Rosa flurescente. E depois voltei à minha cor amarelita normal e disse-lhe muito calmamente "fez cocó... O Gui fez cocó".
E assim tem sido ao longo deste ano e alguns meses: lutar contra o "si mijó", o "estou à vi", "o Gui não querO", "o Gui si páncou" e coisas do género. Mas sim... eu sei que mais cedo ou mais tarde, daquela boquinha fofinha do meu bebé, há-de sair uma atrocidade qualquer destas. É a vida. Paciência.

Por outro lado tem a vantagem de nunca ter posto um casaco mais quente do que um casaco de algodão ao meu filho. Vivemos no calor e vamos de férias ver a família em época quente. Se tudo correr bem neste próximo natal vai sentir o que é o frio. Calorento como é acho que vai gostar.

E a saúde?
Bem... eu trabalho na área da saúde. Tenho a vida facilitada e alguns conhecimentos. Mas quando ele partiu a cabeça (sim, ele é um pequeno terror com duas pernas e dois braços!), e nem houve discernimento para pensar a quem telefonar ou onde ir, fomos parar a uma primeira clínica que... "Ah, pois... aqui não damos pontos". Ok. Boa. Então e agora?
Lá fomos nós para uma segunda clínica.
Depois de passar por 4 médicos e um enfermeiro lá decidiram passar à acção. E não havia recursos materiais. Faltavam aqueles pensos que evitam dar pontos "Não temos!". E só foram à procura daquela linha absorvível porque eu fiz uma birra horrorosa a bater o pé que não voltava com o míudo para tirar pontos que não me apanhavam ali tão cedo.

Mas é o calcanhar de aquiles. A saúde. E depois ouvimos histórias... daquele e do outro que "estavam bem", "vê lá, era só uma apendicite e morreu coitadinho do pequenino", "não souberam ver que ele tinha uma sepsis"... QUERO FUGIRRRRRRRR! Mas não... depois ficamos... benzemo-nos... pedimos que seja só com os outros... e continuamos a nossa vida a pensar "quando voltarmos A CASA vai ser tudo tão mais fácil!"

(será que isto já vai na ordem do argumento do Benur?!...)

Depois tem coisas boas... bem boas. Há mais união entre o grupo de amigos. Estamos mais presentes. Temos mais tempo para saídas. Para lanches. Para conviverem as crianças todas. Há mais apoio. Passamos todos pelo mesmo. Uns com mais experiência que outros. Mas somos família. Família emprestada.

Voltar a casa vai ser bom. Mas enquanto não voltamos vamos vivendo felizes.

Ana Feijão

2.24.2015

Afinal havia outra (#10) - Ansiedade da separação


Esta semana fui tomar banho e fechei a porta e liguei o aquecedor porque queria que a casa-de-banho ficasse cheia de vapor, quentinha, uma maravilha de sauna mas sem a falta de ar. Entrei na banheira e pus-me debaixo do duche a ferver. Suspirei. Maravilha. Três segundos depois alguém a bater na porta e a dizer “mamã”. “Mamã, mamã, mã, mamã, mã” sempre intercalado com pequenos murros na porta. O banho todo. Ouvia o meu marido a dizer “ó filha, deixa a mãe, anda para ao pé do pai” mas é o vais. Pelo menos não chorou. Aquela história de não conseguir fazer xixi em paz? É verdadeira. Mas além da criança, também há um cão que adora beber água do bidé, pelo que normalmente somos três seres na casa de banho, uma na sanita, um a beber água e a outra a apontar ora para o cão, ora para as minhas pernas, ora para a sanita. “Sim, a mãe está a fazer xixi.” “É”, responde ela enquanto aponta para a fralda.

Quer colo a toda a hora, chora se eu saio da sala, se eu não lhe dou a atenção que ela acha que merece, abraça-se a mim quando vê outras pessoas, pendura-se nas minhas pernas e não me larga. Não me larga um bocadinho, só eu é que sirvo, só eu é que sei ler-lhe os livros, montar a torre de cubos. E é espectacular. O meu ego está mais insuflado do que as minhas pernas (pernas? Eu queria dizer mamas) durante a gravidez e eu estou a aproveitar cada momento desta coisa de ser o universo inteiro de uma pessoa porque sei que vai durar pouco tempo. Mesmo quando me queixo que não consigo ter tempo para mim, é tudo mentira quero lá saber de mim, só quero aquela miúda ao meu colo a rir-se e a dar-me festas sem que eu as peça, antes que se transforme numa parvalhona enjoada que não me suporta. 

Se alguma mãe se queixar que os filhos não a largam e que é uma chatice e que não pode ser, não acreditem. Está só a fazer género, por dentro o coração está em pleno carnaval.

Leididi