Mostrar mensagens com a etiqueta fotografias dos filhos na internet. Mostrar todas as mensagens
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1.19.2018

Vou me arrepender de ter publicado isto, mas pronto.

Começo a escrever o post ainda indecisa se o vá publicar ou não. Independentemente de quem terá razão ou de toda a gente que tenha e não tenha razão, estou farta de ler comentários aos berros. Grita-se muito hoje em dia tanto em assuntos importantes como em menos. Calma. 

Não é muito meu criar uma estrutura de pensamento para aquilo que escreva aqui. Escrevo conforme me sinta no momento ou baseando-me em algo que gostaria de transmitir. Aqui vai.

Quando a Irene nasceu, não a quis mostrar ao mundo. Ou melhor: quis, mas senti que não devia. Tanto o pai como eu estávamos divididos se o devíamos fazer ou não. 

Queria, na mesma, registar o momento. O meu primeiro sorriso depois dela ter nascido, ainda muito pouco recuperada do parto e de tudo o resto. 



Senti que o mundo não tinha que a conhecer e que o meu dever era protegê-la. Que era a minha bebé, a nossa e que ser mãe e internet não tinha nada que ver uma coisa com a outra. Aliás, expô-la na internet pareceu-me que iria profaná-la. E fiquei assustada por assim que publiquei esta fotografia ter surgido uma notícia sobre isso num site.

Mesmo assim não conseguimos evitar. Tanto o pai como eu, depois de termos uma conversa em que falamos sobre quais seriam os perigos práticos de expôr a Irene e não conseguimos concretizar. Cheguei a pensar nisso várias vezes, claro, até escrevi algo aqui sobre isso aqui

Apesar de ter começado a trabalhar no meio há 10 anos e de ter feito rádio em programas de destaque e também televisão, nunca me senti minimamente "conhecida". Talvez por não gostar de "aparecer" ou de não ir a sítios onde as pessoas que me reconheceriam frequentassem, mas não senti. Ter os seguidores que tinha no Facebook (e que, anos depois ainda são os mesmos que aquilo está morto), os que tinha no instagram (que eram alguns mas tão menos que tanta outra gente) apesar de serem tão menos que pessoas que eu considerasse conhecidas. Nunca me levei a sério. Nunca me vi como alguém que fosse popular nem, além da internet, fui tendo esse feedback. A minha vida era fazer rádio, sair e ir para casa. Ou rádio, televisão, casa. 

Engravidar e decidir ser mãe preencheu-me um vazio enorme. A verdade é essa. Desde que engavidei que a Irene e a nossa ligação me inspira e, mesmo antes dela nascer, escrevi um livro sobre ela, sobre a nossa gravidez. Comecei a apaixonar-me por todas as mudanças e expectativas disto da maternidade e comecei a sonhar com a Irene diariamente, connosco. 

Depois de um parto que esteve longe de ser o melhor parto possível e de um início de ligação muito desfasado entre mim e a Irene (eu não estava bem), as coisas começaram a acalmar ou, então, comecei a ter força para enfrentar o que se passava, relativizando, como sempre. Pensando: há de haver mais mães que se sintam tão sozinhas, perdidas, ansiosas e desesperadas como eu, preciso de sentir que somos mais e, provavelmente, elas também.

Uma das coisas em que penso mais é que em todas as evoluções há quem se sinta mais confortável na maneira anterior de viver o mundo e há quem se adapte mais facilmente (e automaticamente, sem pensar tanto, como preferirem) aos tempos actuais. Lembro-me quando usar o nome verdadeiro nas redes sociais ou onde quer que fosse na internet era impensável, mas praticamente toda a gente usa o seu nome verdadeiro (e apelidos!!) no Facebook. Praticamente toda a gente terá fotografias suas nas fotografias de perfil e até já há muitas mais pessoas a sentirem-se confortáveis a fazerem compras online sem medo que nos esvaziem os cartões de crédito. Também já não respondemos ou abrimos mails esquisitos da Nigéria... As coisas têm vindo a mudar. 

E, com a minha ingenuidade, o que me tem servido até hoje para acalmar a minha "mãe leoa" - que chatice, só associo isto a reality shows - em mim é que hoje isto não parece normal porque é "o começo". Da mesma maneira que vender os meus CDs todos por ter tudo em mp3 também me pareceu horrível, mas a verdade é que nunca os iria usar e agora nem tenho leitor. No futuro, da mesma maneira que partilhamos as nossas localizações, os nossos estados de alma, os nosso quartos, a nossa comida, a nossa roupa, os nossos beijos na boca à pessoa com quem estamos, os Natais, os pais, os irmãos, os filhos, os netos farão parte do conjunto de infinitas imagens na internet de todas as pessoas do mundo. Depois, provavelmente, voltaremos a coom éramos antes. Não partilhar nada. Usarmos nomes a fingir e avatares para não darmos informações nenhumas sobre nós. Uns de nós vão rejeitar chips que passem informações sobre o nosso organismo ao médico, outros vão adorar (muito Black Mirror). 

O meu ponto de partida não é errado. É um ponto de partida. É válido, mas falta aqui o que realmente importa: e o direito da criança à privacidade? Tenho vindo a reflectir mais sobre isso, por causa do programa, mas também por todos os berros em comentários aqui e noutros sítios... Eu não sou só "uma mãe" que mostra a criança para umas 100 pessoas (sendo que, às vezes, é até no seio mais próximo que acontecem as desgraças). As pessoas reconhecem-me e à Irene. E temos recebido imenso carinho, imensos sorrisos, até dos filhos dessas pessoas que vêm na Irene uma amiga. 

Como vejo o Mundo actualmente, não imagino ninguém, muito menos mães que me odeiem (que as há pelas minhas opiniões e pelas suas maneiras de verem as coisas) a fazer mal à minha filha. Não sei como poderiam fazê-lo, sequer. As mães fazem isso aos filhos dos outros? No meu mundo as mães não fazem isso. Não fazem mal aos seus filhos nem aos dos outros e não decidem fazer ainda pior a uma miúda por ser filha de uma mãe que tem um blog onde o principal intuito é conversar sobre maternidade e que reflictamos em conjunto sobre as pressões a que estamos sujeitas e a dificuldade da questão, mas também o amor. 

A Irene e o seu direito à privacidade. Afastando-me do lado concreto da questão (os artigos dos códigos) porque lá por estarem em livros não quer dizer que não pensemos sobre eles. É a lei, mas a lei pode ser mudada, ou não. Ou podem estar a ler - como se alguém lesse até aqui - sobre a blogger que vai mudar de opinião e vai deixar de publicar fotografias da filha na internet. Ainda não sei. Estou a escrever, como vos disse, em directo. 

Na adolescência vivi um episódio muito difícil (vivemos todas, bem sei) em que senti o que era a minha privacidade ter sido grandemente violada e a um nível bastante intimidante. Por isso, posso deduzir que provavelmente o meu espectro para avaliar esta questão da privacidade da minha filha não será o "normal". Não me parece minimamente grave ela ter um blog, ou até mesmo um livro ou dois, em que a mãe fale diariamente do que sente por ela, das suas dificuldades e virtudes e em que publique fotografias lindíssimas dela. A mãe que gosta de olhar para ela, de a fotografar e que quer mostrar ao mundo o quanto é bela. A mãe que tem o cuidado - mesmo quando não tinha uma máquina de jeito - porque a ama, que ela não apareça em condições que não a favoreçam. Aparece bonita, feliz ou triste a fingir. Vejo o que tenho feito da minha maternidade pública com a Irene uma enorme declaração de amor diária, um diário que me ajuda a sistematizar pensamentos e sentimentos e também uma fonte de inspiração para muitas mães (parece presunçoso da minha parte, mas tenho de começar a assumi-lo tantas que são as vossas mensagens de carinho). 

Foi por um mau motivo, mas eu sei (ou parece-me) que o "bullying" acompanha pessoas da mesma geração (quem lê este blog são as mães e não as crianças). Daqui a uns anos - se eu continuar a publicar fotografias dela - quando a Irene já não quiser aparecer, não aparece e os colegas dela não saberão quem ela é. A não ser, talvez, pelo nome. Não há muitas Irenes por aí, mas não iria eu escolher um nome normal para a miúda para ninguém saber que ela é minha filha, não é? Ou criar uma espécie de clima de segredo sempre que falasse nela e dissesse a Baby I e mostrasse só uma mão ou um pedaço do pescoço. Não sei. Parece-me tudo demasiado longe de mim e da minha realidade, mesmo respeitando a 100% quem escolha essa opção porque na minha linha de pensamento eu corro o risco da Irene odiar que eu tenha feito isto, mas nunca correria risco se não a expusesse. Nem violava um direito dela. Sei. 

Pondo-me no lugar dela, eu tal como sou e não a leitora anónima como é e que já está a fervilhar), eu ficaria muito feliz se a minha mãe me tivesse feito isto. Tal como fiquei muito feliz com as fotografias que ela tem minhas e com o album da cegonha que ela fez de mim quando eu era bebé. Uma coisa é privada e a outra é pública, bem sei, mas passaram 31 anos desde aquele álbum. O privado e o público terão ganho também outras dimensões. 

Como o que conto aqui. Inibo-me praticamente de forma muito natural a partilhar coisas da minha vida que possam perturbar terceiros. Não venho para aqui lavar roupa suja da minha relação com o pai da Irene, não faço aqui queixinhas de escolas antigas (posso dizer que me enganei na escolha), etc. Aqui partilho o que não me importo que se saiba o que todas nós sabemos que é verdade, caramba: o lado bom e lado mau disto. 

Independentemente do que venha a decidir - ainda estou a pensar e reflectir e até lá continuarei a agir como tenho agido até agora porque se nunca tivesse pensado a sério nisto é que seria grave e já pensei o suficiente para ter chegado à conclusão anterior - este momento já serve para trazer mais food for thought e, nem que seja, para pensar ainda melhor nas parcerias e na publicidade que fazemos no nosso blog usando as nossas filhas. 

E, por acaso, mesmo reflectindo tenho bastante vaidade na forma como temos conduzido o blog nesse aspecto. Temos recusado muitas muitas propostas de marcas com as quais não queremos que nem as as nossas filhas nem nós estejamos associadas. Tirando uma situação (acho que foi só uma e nem as envolveu), não me lembro de nada que me tenha deixado desconfortável, mesmo pensando na Irene. Há dias em que, quando olho para a conta, e vejo o saldo que tenho agora e quantos dias ainda me faltam para o fim do mês, me vem à cabeça os milhares de euros que já perdemos por termos os critérios que temos, mas a frutração passa rapidamente. 

O que vou começar a fazer e também por causa disto é criar uma conta-poupança para a Irene, mesmo que o dinheiro que faço daqui vá praticamente para ela, é mais justo assim. 

E agora espeto uma fotografia, uma daquelas que acho que a Irene irá adorar pela fotografia e também pela declaração pública de afecto. Digo eu, sei lá. Vou pensar.


🎔


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